Relação escola-família e o “mito da omissão parental” na educação básica: escuta aos docentes
DOI:
https://doi.org/10.14244/reveduc.v18i1.6759Palavras-chave:
Sociologia da educação, Relação escola-família, Educação básicaResumo
O artigo busca contribuir para o estudo da complexa relação entre escola e família nos meios populares, especialmente no que tange ao envolvimento parental na vida escolar dos filhos. Parte da confrontação de dois discursos: um deles, recorrente entre os professores, afirma que as famílias são omissas quanto ao acompanhamento escolar da prole; e outro, o discurso sociológico que, contrapondo-se ao primeiro, argumenta que a omissão parental é “um mito”. Este trabalho enfatiza a escuta dos docentes, examinando dados levantados em entrevistas e grupos focais com profissionais de duas escolas públicas municipais de Belo Horizonte / MG. Constata, nos depoimentos, alguns consensos: 1) tem havido uma melhoria no envolvimento das famílias, embora muitas vezes os entrevistados ainda o considerem insuficiente; 2) esse envolvimento é maior no caso dos estudantes com melhores desempenhos; 3) o envolvimento decresce com a idade dos alunos. Distingue, também, diferenças entre as duas escolas, havendo maior alusão à “ausência” dos pais naquela que atende uma comunidade mais vulnerável. A análise leva a concluir que o discurso dos entrevistados, por um lado, não se exime de culpabilizar moralmente as famílias populares, justificando o esforço de desmistificação realizado pela literatura sociológica. Por outro lado, tal discurso não revela somente estereótipos sobre essas famílias, mas, sobretudo, a magnitude dos desafios vividos pelos professores em seu trabalho pedagógico, merecendo, nesse sentido, ser levado em conta pela mesma literatura.
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