Caducidade moral e vida alienada: reflexões filosóficas e literárias sobre ética na educação

Abstract

Este artigo analisa, desde a teoria crítica, o pensamento nietzschiano e um conto machadiano, as perspectivas da experiência moral na sociedade contemporânea. A pesquisa, de caráter bibliográfico, procura encadear a filosofia com a análise literária, estabelecendo um diálogo capaz de estimular a reflexão e inspirar horizontes distintos para o enfrentamento da temática moral no âmbito educativo. Ela parte da noção defendida por Theodor Adorno de que a moralidade foi esquecida e sua consolidação depende mais dos mecanismos do modelo produtivo do que da construção de costumes compartilhados conscientemente pelos homens. Analisa a origem desse fenômeno que, para Nietzsche, está na cisão estabelecida entre a razão e a intuição, de tal forma que valores passaram a ser defendidos desde um raciocínio utilitarista e, na sequência, pelo desenvolvimento do ideal ascético. Segundo esse autor, uma racionalidade íntegra requer alcançar a verdade das coisas intuitivamente, sem tentar dominar e controlar sua existência. É o que se percebe no conto A Cartomante, de Machado de Assis. Ali encontram-se sinais dessa aproximação intuitiva, desconcertante, que mais sugere do que revela e, nesse sentido, toca a natureza humana em sua ambiguidade fundamental. Ao apontar tal realidade, o conto desmascara as inconsistências de um paradigma pensado e estruturado para satisfazer todas as necessidades humanas, revelando essa impossibilidade e suas consequências. A compreensão adequada da realidade, do lugar da moral e da possibilidade de construir uma vida menos dependente exigem o resgate da dialética da existência na dinâmica educativa, essa chance de enxergar as tensões e conflitos dissimulados.