A pedagogização do sexo da criança: do corpo ao dispositivo da infância (The pedagogization of sex and children: from the body to the childhood device)
DOI:
https://doi.org/10.14244/198271993355Resumen
What is pedagogization? What is childhood? And, what is the device? This article is based on a doctorate research which links these three concepts from a Foucault analysis. The starting point is the notion that the 18th century invests specifically in the body of the child, producing a series of practices which register into a pedagogization process of their sex. This process first occurs through silencing and denial of the existence of a child´s sexuality, but at the following moment, it will trigger off an explosion of practices which will exalt, explain, incite, “liberate”, treat, cure, etc, all the manifestations around their body. There is a hypothesis which crosses this debate and preconizes it is from the moment the child becomes one of the strategic groups of the sexuality device. According to Foucault, a heterogeneous set of regimes of truth and practices is also produce don’t of his child, in such way that, a specific manner of childhood living is shown to them. This way, childhood constitutes itself, as well as sexuality, as a historical power device. By corresponding to the characteristics of the device, the article shows the practices which framed the modern childhood, such as: Pedagogical Practices, Divider and gender an didentity Practices and Medical Practices. Through such practices, it is possible to observe the visibility and enunciation lines, as well as the strength and subjectivation ones, converging to frame the body of the child and to configure them as a way of living, behaving, playing, and expressing themselves. A movement which is precise and micropolitical: from the practices of discipline from the body to the childhood device.
Resumo
O que é a pedagogização? O que é a infância? E o que é o dispositivo? Este artigo se deriva de uma pesquisa de doutorado que entrelaça estes três conceitos a partir de uma analítica foucaultiana. O ponto de partida é a noção de que o século XVIII investe de maneira específica no corpo da criança, produzindo uma série de práticas que se inscrevem em um processo de pedagogização de seu sexo. Esta pedagogização, por sua vez, ocorre primeiramente por meio de um silenciamento e de uma negação da existência da sexualidade da criança, mas que em momento seguinte desencadeia uma explosão de práticas que irão, por outro lado, exaltar, explicar, incitar, “liberar”, tratar, curar etc., todas as suas manifestações em torno de seu corpo. Há uma hipótese que atravessa esse debate que entende que é a partir do momento em que a criança se torna um dos grupos estratégicos do dispositivo da sexualidade, tal como pressupõe Foucault, um conjunto heterogêneo de regimes de verdades e práticas é também produzido sobre esta criança, de maneira tal, que se desenha para ela um modo específico de viver a infância. Dessa maneira, a infância vai se constituindo, tal como a sexualidade, como um dispositivo histórico do poder. De forma correspondente às características do dispositivo, o artigo desenha as práticas que emolduraram a infância moderna, tais como: as Práticas pedagógicas, as Práticas divisórias e identitárias de gênero e de sexualidade e as Práticas médicas. Observa-se, nessas práticas, as linhas de visibilidade e de enunciação, as de força e as de subjetivação, todas convergindo de maneira a esquadrinhar o corpo da criança e a configurar para ela um modo de viver, de se portar, de se vestir, de habitar, de brincar, de se expressar. Um movimento que é preciso e micropolítico: das práticas de disciplinamento do corpo ao dispositivo da infância.
Keywords: Childhood, Sexuality, Device, Pedagogization.
Palavras-chave: Infância, Sexualidade, Dispositivo, Pedagogização.
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